Tenho recebido muitos e-mails e mensagens de leitores da Venezuela, Colômbia e Peru. Meu livro Depois daquela viagem — diário de bordo de uma jovem que aprendeu a viver com aids foi traduzido para o espanhol com o título ¿Por qué a mí?. E vem sendo adotado em escolas para abordar o tema entre os adolescentes latino-americanos. E torço para que surja um convite para eu dar palestras nesses países.
Por duas vezes eu tive essa oportunidade no México. Em 2007 e 2008 fiquei um mês viajando pelo país com a Editora Santillana, falando em diversas escolas públicas e particulares. As viagens foram maravilhosas. O país tem uma cultura interessantíssima, conheci lugares lindos e a hospitalidade e simpatia do povo mexicano é contagiante. Entretanto, me chamou a atenção o preconceito e desinformação geral em relação à aids.
Enquanto aqui no Brasil, desde 1997, os soropositivos têm acesso gratuito e universal aos medicamentos — ou seja, sem a necessidade de vínculo empregatício ou seguro social — lá as instituições de seguro é que disponibilizam os anti-retrovirais. A Secretaria da Saúde mexicana também distribui a medicação, embora não consiga atender a todos. Um garoto soropositivo que conheci em Querétaro me explicou: “Quem quer medicamento tem de correr atrás. Mas por falta de informação e por a doença ainda estar sendo muito associada com a morte, muitos não procuram tratamento.” As populações afastadas dos grandes centros urbanos são as que mais sofrem com essa realidade.
Em minhas palestras os jovens se surpreendiam com meu bom estado de saúde, já que tenho o vírus desde 1987. E o fato da aids estar sendo tratada aqui como uma doença crônica lhes parecia inacessível. O México não teve uma referência forte de pessoa pública com o vírus que servisse de referência nacional. Como nós tivemos, por exemplo, o Betinho, Cazuza e Sandra Bréa, que nos ajudaram a assimilar a doença em nossa própria cultura. E quando a imagem real de um soropositivo é ausente, a doença acaba se tornando muito pior no imaginário da população.
A cultura mexicana, bastante conservadora e machista, além de extremamente religiosa, também acaba reforçando muitos preconceitos em relação ao HIV. Os ativistas reclamam da falta de informação, da carência de políticas públicas mais eficientes e, principalmente, da não aceitação dos homossexuais pela população. Eles também relatam que muitos trabalhadores ainda são despedidos de seus empregos por terem o vírus, embora isso seja proibido por lei. Mas, para não se exporem, acabam não buscando seus direitos.
Em 2008 fiz uma viagem ao Peru, dessa vez de férias e para estudar espanhol. Conheci Cuzco e Machu Picchu, lugares de sonho para qualquer mochileiro. E também pude observar que o país ainda sofre muito com a desinformação e preconceito em relação à aids. Uma estudante de enfermagem me contou que “As pessoas que têm essa doença estão morrendo por falta de tratamento.” E uma de minhas professoras me disse que nunca tinha visto um soropositivo e não sabia se teria medo de tocá-lo. Claro que, quando fui embora, deixei um livro meu para ela.
Fotos:
1 - Em cima da Pirâmide do Sol em Teotihuacan, com meus amigos mexicanos
2 - Palestra em Atlacomulco no Estado do México
3 - Alunos no auditório de palestra na Cidadedo México
4 - Machu Picchu
4 - Machu Picchu
Nossa, esse tipo de relato é muito interessante. Quando a maioria das pessoas(eu acredito que seja e espero mesmo que esteja certa) já tem um maior esclarecimento, às vezes nos iludimos, achando que não há mais todo esse preconceito. Infelizmente, ele existe e é perceptível em determinadas culturas que não tem acesso ao esclarecimento.
ResponderExcluirAcho que é uma questão importantíssima a ser trabalhada. E deve ser encabeçadas pelos formadores de opiniões, como os que você citou, que mostravam que qualquer um pode contraí-la, é uma doença democrática.
Há muito o que se divulgar e falar sobre o assunto. Por isso pessoas como você são importantes, que se mostram e dizem sobre uma realidade que só um soro-positivo pode sentir.
Vou parar por aqui, se pudesse falaria muito mais, porém acho que já dei meu recado.
Parabéns pelo texto!
Beijos,
Aliene
Oi meu nome é TAINA WEBER, sou soro negativa, mas li seu livro e adorei. Até recomdei pras minhas amigas e elas tbm adoraram...
ResponderExcluirMas quando teminei queria saber mais sob o assunto e sob você...
Eu acho um absurdo todos os tipos de pré-conceitos q esistem sempre achei...
...mas seu livro tbm me encinou a combater outros tipos de pre-conceitos como em relação com a cultura das pessoas, e tantos outro q mostram...
OBRIGADO POR VC TER PROPORCIONADO PRA MIM E PARA OUTRAS MILHARES D PESSOAS O PRAZER D COMPARTILHAR SUA VIDA...
POR:TAINA WEBER, 15ANOS NOVO HAMBURGO/RIO GRANDE DO SUL.
As vezes parece que o Brasil não faz parte da América Latina! Não que sejamos um país de primeio mundo, livre dos problemas de país colonizado. Mas os demais países ainda são bem mais "terceiro-mundistas", digamos assim. Aqui as coisas evoluem à passos curtos, mas lá é ainda pior. A cultura, apesar de rica, é um impasse. Como você mesma disse, os mexicanos são, em sua maioria, religiosos, tradicionais e machistas. Essa combinação leva a um pensamento medieval em relação a aids, o que faz com que as pessoas acabem não se cuidando e pegando a doença. Quanto mais pessoas com aids, mais difícil o governo dar conta de dar medicamento a todos... É um ciclo vicioso que só através de muita informação poderá ser rompido. E você contribui para isso. Parabéns pelo seu trabalho.
ResponderExcluirValéria, fiquei feliz em saber que você continua sendo uma pessoa disposta para falar sobre a AIDS em qualquer canto do mundo. Mais feliz ainda é você relatar aqui como está sendo a sua experiência. Deu para perceber que os países latino-americanos necessitam de alguém vivendo com AIDS para dar esclarecimentos. Que você continue sendo convidada para dar muitas palestras, pois tem muita gente que precisa ouvir. Parabéns pelo seu texto e trabalho! Um abraço!
ResponderExcluirQue triste isso, Valéria!
ResponderExcluirTriste saber que um país, tão grande como o México, sofra dessa falta de informação e tenha tanto preconceito. Muito triste mesmo.
Sabe dizer se algo tenha mudado ou estejam tentando mudar essa situação?
E concordo com o que a 'Lu' disse a cima. Esses países precisam de você, pelo menos de pessoas como você. Que os mostrem que pessoas com Aides pode, tem o direito e dever de viver, ser feliz.
Parabéns e obrigada por fazer isso pelas pessoas. Eu como um ser humano me orgulho disso.
Amo você.
Beijos
meu nome e hellen vitória tenhoo 16 anos e tenho que fazer um trabalho da aids mas traduzidoo para o espanhol
ResponderExcluirEuu Adoreii msm ..
mas eu queriia em espanhool nao achoo em nenhum site traduziido para o espanhool
mas esta otiimo esse !
bjO