Nas palestras no México, sempre utilizávamos um tradutor, já que meu espanhol não estava fluente. Juan Martín ou Laura, me acompanharam por várias escolas. Eu falava uma ou duas frases e parava para que eles pudessem traduzir. E o arranjo que a princípio me pareceu esquisito, funcionou.
Para mim aquela tradução muitas vezes soava engraçada. Parecia que eu dizia algo e logo em seguida ele ou ela repetia a mesma coisa com uma leve variação. Mas Martín garantiu-me que a história de que os falantes da língua espanhola nos entendem menos do que nós a eles é pura verdade. E me deu a seguinte explicação:
Em espanhol o som das vogais são somente um para cada: a, ê, i, ô, u. Já em português nosso a, pode soar também ã; o e pode soar ê, é e até mesmo i; o o pode ser ô, ó ou u. Sem contar nossos ão, ãe, que eles não têm. Só isso já os deixa bastante confusos. Mas ainda temos outros sons como os do g e j, que para eles também não existem; soam como r, como em Juan, que se pronuncia, Ruan. Nosso l nos finais das palavras tem som de u. E nosso s pode ter som de z. Por exemplo, na verdade, dizemos Braziu e não Brassil, como som de s e l ao final, como se escreve e eles pronunciam.
Há também aquelas expressões que parecem ser iguais, mas podem causar uma baita confusão. Se alguém lá diz que a comida está esquisita, não se preocupe, ela está deliciosa. Estranhar a alguém é sentir sua falta. Dar propina é dar uma caixinha. Um pastel é na verdade um bolo. Microfone se pronuncia micrófono, vídeo, vidêo. E quando nós brasileiros dizemos a gente, estamos nos referindo a nós; já em espanhol, la gente, se refere a eles. E se disserem para você como uma professora me disse: “Ai, que lindo, cuantas porras te dieron!”. Não se assuste, ela está comentando como foi lindo os adolescentes gritando o teu nome na platéia, que aliás, não era Valéria e sim um simpático, Balêria.
Outras pequenas diferenças chamam a atenção para as questões culturais fazendo-nos repensar conceitos. Por exemplo, quando estamos conversando com alguém em português temos o costume de perguntar: entendeu?. Martín explicou que lá é mais educado indagar: Me fiz compreender? Pois lá a responsabilidade de se fazer entender é de quem fala e não de quem ouve.
No México a aids é chamada de Sida, aliás, nada mais certo e lógico uma vez que é a sigla da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. E o HIV, Vírus da Imunodeficiência Humana, é VIH, como se fala também em Portugal e em toda a América Latina. No Brasil, desde que foi descoberta no início da década de 1980 nos Estados Unidos, a doença se espalhou pela mídia com a sigla em inglês; o que foi sempre muito contestado por especialistas de diversas áreas. Mas o fato é que nunca se mudou, porque aqui preferimos falar como os americanos. Ou melhor, como os estadunidenses, como dizem os mexicanos. Pois americanos somos todos nós, povos das Américas.
Fotos:
1- Eu e Martín dando palestra em Texcoco (fev/2007)
2 -Eu e Laura, no hotel em Monterrei, prontas para mais uma escala (fev/2008)
3- Nós três em cima da Pirâmide do Sol em Teotihuacán (jan/2007)
Oi Valéria
ResponderExcluirComo sempre, adorei o seu texto e me deliciei com as explicações sobre os motivos que levam os falantes de língua espanhola a terem dificuldades para entender os de língua portuguesa. Vc nos brindou com uma verdadeira aula. Beijos.
Oi Valéria,
ResponderExcluirMuito interessante mesmo suas explicações. Às vezes a gente se acha o máximo, falando outra língua, e na verdade só está dizendo barbaridades. Admiro muito o trabalho de tradutores que, em geral, são tão desvalorizados. Obrigada por compartilhar com a gente o que você aprendeu.
Gostei de saber um pouco mais sobre a diferença da língua portuguesa e da espanhola. Não tinha imaginado que para as pessoas que falam espanhol é mais difícil aprender o português. Como disse a Jane, você nos brindou com uma verdadeira aula. Beijos!
ResponderExcluirOlá Valéria!!!
ResponderExcluirSeu blog é ótimo!! Parabéns!!!
A primeira vez que eu li "Depois daquela Viagem" eu era um adolescente inconsequente, então, a leitura me ajudou a analisar melhor a vida e suas dores e alegrias vividas...
Eu gostaria de entrar em contato com vc por e-mail, teria algum que eu pudesse usar?
abraço de luz
DESCOBRI MINHA DOENÇA EM JANEIRO DE 2010 E VC ESTA SENDO SIMBOLO DE ESPERANÇA
ResponderExcluirMUITO OBRIGADA E CONTINUE NOS DANDO ESPERANÇA
Hola! que escrito tan bonito! Me encanto!
ResponderExcluirEu estou estudando a língua portuguesa do Brasil, e é como você diz, nos temos dificultai para entender o português.
PD: Desculpe meu ruim português.
Un saludo!! :D
Muito interessante o texto! Realmente é muito mais fácil nós o entendermos do que o contrário.
ResponderExcluirE é triste perceber o quanto nós, brasileiros, temos mania de supervalorizar tudo que esteja em inglês por achá-lo um idioma "chique".
Nada mas acertivo que esse texto. O Espanhol pera sua proximidade com o portugues se torna um idioma bastante dificil para ser estudado academicamente. A propria facilidade de compreendermos quase tudo nos leva a um preguiça mental Abracos
ResponderExcluirQue graça de artigo, parabéns!
ResponderExcluir